terça-feira, 21 de junho de 2011

Usina nuclear em Cananéia, na Ilha do Cardoso - Década de 70

No ano de 1979, havia rumores de instalação de uma Usina Nuclear na Ilha do Cardoso, mas não parecia ser apenas rumores, havia realmente algo acontecendo por debaixo dos panos.

Não era a toa que a Marinha queria a qualquer custo expulsar mais de 80 famílias de pescadores, mais de 400 pessoas do Maruja, uma pequena comunidade de  Cananéia, para a construção de uma central de energia nuclear que mudaria completamente a vida pacata dos moradores da cidade a partir de então.

Diante deste triste processo que iria ocorrer, despejo de famílias inteiras de suas terras, poucas pessoas tiveram a coragem de levantar alguma bandeira se opondo, porém lá estava JOÃO TRINTA preocupado com o meio ambiente e com o povo que estava prestes a ser literalmente despejado do seu aconchego. No ano de 1983 Pe. João organiza uma grande manifestação, preparando assim a manifestação do povo de forma legal. No processo foram juntados documentos diversos como "procurações, atestado de pobreza, declarações de posse, certidões de casamento e nascimento, documentos do livro da terra da Paróquia a partir de 1856 entre outros" O resultado sabemos, aqueles que decidiram ficar na ilha, la estão até hoje...

Nesta época o prefeito pouco sabia informar da retirada dos pescadores da ilha, porém o Padre João trinta, tão logo soube da intimação enviada aos pescadores e proprietários com títulos na ilha do Cardoso pela capitania dos Portos de Iguape, entrou em contato direto com a Cúria Metropolitana de São Paulo que imediatamente designou a comissão de justiça e Paz para atuar diretamente no caso.

Foto: Colônia de Pescadores Z-9 Cananéia-Sp
Para o PE. João trinta, a intenção do Ministério da Marinha em desocupar a Ilha era uma agressão aos pescadores, descendentes de Índios e Catarinenses que viveram há mais de 200 anos no local. Para ele, ninguém estava realmente preocupado em deixar o homem conviver com a natureza. O morador natural da Ilha do Cardoso, ao contrario do que possa se imaginar ajuda a promover a fauna e flora e mesmo assim, sofriam sobre a forte ameaça de serem expulsos de seus barracos por arbitrariedade das autoridades.

Em uma terça feira, os advogados da comissão de Justiça e Paz enviados pela Arquidiocese de São Paulo, o Bispo de Registro Dom Aparecido que por ocasião cabe comentar, teve em toda sua trajetória os pés fincados na realidade e no compromisso com o povo e representantes da capitania dos portos de Iguape, haviam se reunido juntamente com mais 50 pescadores na casa paroquial para esclarecimentos. A capitania obviamente não entrou em detalhes, apenas deixou claro que o Ministério da Marinha tinha interesse pela Ilha, sendo a mesma utilizada para fins militares.

Padre João sabia do forte potencial da Ilha para a construção desta Usina e se mostrava preocupado com a devastação do local e os danos que a mesma causaria aos moradores, enquanto a prefeitura ingenuamente acreditava que faltava água na Ilha para tal feito. Os moradores tanto de antes quanto de agora, sabem que há varias cachoeiras, vários rios, portanto recursos hídricos suficiente para o funcionamento de uma usina nuclear.


Naqueles tempos a população de Cananéia tinha em média 14 mil habitantes segundo jornais da época, muitos ouviram falar, porém não sabiam avaliar as graves conseqüências. Para alguns poderia esta usina até trazer algum progresso, para outros um desastre total. Vale ressaltar que naquela época poucos ainda se preocupavam com a questão do meio ambiente, ainda mais levando em conta o Vale do Ribeira um lugar tão desprovido de recursos.

Hoje estaríamos diante de um retrocesso, dos 442 reatores no mundo, um a mais estaria em Cananéia, se a Marinha do Brasil não tivesse encontrado naquela comunidade alguma resistência. Poderia ser uma obra inacabada, ou apenas um projeto mirabolante do governo da época, não sabemos, o que sabemos é que a fauna e flora na Ilha continua preservada graças ao engajamento de alguns poucos.

Hoje países de primeiro mundo da Europa principalmente, após o acidente em Fukuschima no Japão lutam, vão às ruas exigindo que estes reatores sejam desativados, obrigando seus governos a buscar uma fonte mais saudável de energia e menos agressiva a humanidade.


"Usina Nuclear" competição que ameaça!
Poesia de Maria Augusta da Silva Caliari
Publicado no Recanto das Letras em 19/03/2011

Esta revolução que o Mundo ameaça
Não traz benefícios, será uma constante desgraça
É uma corrida só para mostrar mais poder!
Cada país querendo ser mais potente, querendo
Engolir a gente, desde modo tão diferente!
Já basta de tanta poluição nesta pobre Natureza,
Deixando pobres e ricos, a população descontente!
É usina nuclear no Brasil, é usina nuclear no estrangeiro
Aumentando a preocupação do Mundo inteiro!
É usina hidrelétrica para aumentar energia, desabrigando
O povo, deixando- os sem moradia!
A Natureza está transformada.
É necessário alguma coisa fazer.
Para o Mundo não acabar em nada!
Das usinas, a considerada pior é a nuclear.
Se Deus não se compadecer, a Terra, nosso berço,
Ficará sem nada, só teremos dinheiro, nada para comprar!
Nossas crianças, o povo está necessitando de um Mundo novo!
Nossos governantes não podem deixar as ações para depois,
Amanhã, não, tem que ser agora, é atitude cristã!
O ser humano não pode ser esquecido.
A raça humana sabe que a usina nuclear é grande perigo!

Comentario enviado dia 19/06/2011 as 16:09h
Oi Elcio,tudo bem?  Gostei do blog. Falar do Padre João é preciso estar com a boca  em sintonia com o espírito limpo. Ele é uma pessoa que jamais sairá do nosso convívio, pois sempre primou pelo trabalho honesto e digno em se tratando daquilo que a Congregação a qual continua pertencendo apregoa: o amor e atenção pela igualdade, deixando de lado a demagogia e  tentando esclarecer sempre ao povo o que deveria ser vivido e respeitado. Não tenho palavras para falar desse grande homem que veio lá de longe para enriquecer  através do convívio o povo de   nossa Cananeia. Muitos não gostavam dele devido a sua postura e autencidade. Abominava mentira, amava a simplicidade, não gostava de bajulações, era direto, mas sempre pensando no povo e no crescimento sustentável desse município que por pouco não chegou à beira da destruição. Minha poesia "Usina Nuclear" é didicada ao grande João, além de pastor de almas um homem preocupado com o meio ambiente e com uma vida melhor aos menos favorecidos. Pena que não foi longa sua vida próximo de nós. Padte João, com tua ida para outras plagas, Cananeia empobreceu.Teu modus vivends  serviu de modelo para muitas pessoas, por isso nosso empenho em cuidar desta terra descoberta por Martin e que com a graça de Deus estamos habitando nela orgulhosamente. Com carinho, Maria Augusta

sábado, 18 de junho de 2011

Um Importante achado na velha igreja de Cananéia

Assim divulgava o Jornal a FOLHA DE SÃO PAULO de 14 de Dezembro de 1977... A quem possa interessar e até mesmo servir de referência.

O Padre Jan Van Der Heyjden, vigário de Cananéia e a arquiteta Vera Maria de barros Ferras, do Condephaat, sentiram-se gratificados com o importante achado que fizeram após escavações realizadas na capela-mor do histórico templo. Simplismente descobriram as fundações da primitiva igreja de Cananéia, comprovando ser aquele o sitio original da cidade e mostrando, também, que o nível da atual praça era outro, mais de um metro abaixo do atual. Mas o Importante mesmo foi o fato de serem as paredes primitivas de taipa de pilão, técnica construtiva que se pensava nunca ter sido empregada em nosso litoral. Como se sabe, as cidades da marinha sempre tiveram suas construções de pedra e cal. De pedra entaipada argamassada com massa feita a partir da cal obtida da calcinição dos sambaquis. Alias é rara, ao longo de nossas praias, a terra argilosa boa para ser socada nos taipais. Daí a surpresa causada pelo achado. A primeira igreja de cananéia, bem menor que a atual, foi de taipa de pilão, onde, talvez, foi empregada a terra do morro de São João, situado nas proximidades.

A igreja de Cananéia estava em muito mau estado de conservação, exigindo das autoridades pronta intervenção. NA VERDADE, NÃO SE TRATA DE OBRA DE RESTAURAÇÃO, o que demandaria despesa muito grande. O telhado, por exemplo, permaneceu aquele já existente, com suas tesouras modernas. O trabalho principal foi de limpeza e expurgo de obras não condizentes com a dignidade e antiguidade do edificio. Agora foi recuperada a simplicidade do templo, principalmente com a demolição do retábulo de alvenaria de mau gosto. Foi refeito o arco cruzeiro nas proporções primitivas e trocado o piso, agora de ardózin irregular, material condizente com um novo espírito de revitalização da construção histórica, já que o assoalho antigo sobre os velhos túmulos não tem sua reposição aconselhada pelos técnicos, pois os trabalhos de recuperação de bens culturais necessariamente não devem se ater às condições primitivas, principalmente se não existem indícios e iconografia que possam orientar pertinência.

Assim, estas obras do Condephaat em Cananéia vieram a ter duplo proveito: recuperou-se o templo enquanto se descobriram novas informações de interesse histórico.

Em outra Matéria da FOLHA, vejam que fato interessante... A Matéria é de 22/01/1971...


A Igreja
Há coisa de seis anos, não mais que derrepente, os ladrilhos do piso da Igreja de São João Batista de Cananéia começaram a estufar. Simplesmente subiam e quando o cônego Arnaldo Cayafa mandou verificar, descobriu-se um caixão de pinho de Riga azul, com umas iniciais, que se presume de mulher, uma vez que o esqueleto em seu exterior apresentava longos cabelos negros intactos.

Desde então, numerosas vezes o piso da Igreja subiu sempre, se encontrando caixões com esqueletos, dividindo-se as opiniões: Algum aviso, gases presos ou, muito ao contrario, algum fenômeno qualquer, pois não tem cabimento um esqueleto emanar gases, ainda mais depois de trezentos anos enterrado.

Ao que tudo indica construída nos meados do século XVI, a Igreja de Cananéia é uma das poucas no Brasil que te a sua frente virada para o sul, quando normalmente deveria ser para o norte, ou então, para o mar. Segundo alguns historiadores, acredita-se que o porto, naquela época, não era onde se encontra hoje mas na confluência dos rios Olaria e Piranga, agora reduzidos a simples regatos.


A igreja tem sua história e São João, seu padroeiro, também o seu milagre. Uma ocasião, ameaçados por um navio pirata, os moradores foram pedir ao santo que intercedesse por eles. No outro dia, notaram que a imagem de São João apresentava dedos sujos de areia. E assim por muitos dias. Até que o navio pirata foi aprisionado, quando então o seu capitão explicou que somente não atacaram o povoado por pensar que ela se achava fortemente protegida. Todas as noites via ele um solitário sentinela a patrulhar a praia, incessantemente

Fonte: Arquivo pessoal.

terça-feira, 14 de junho de 2011

O Rio Ribeira de Iguape esta gravemente doente...

"Vai Divino Ribeira... Vai em busca do Mar...Vai em busca do Atlântico. Leva consigo a vida e da vida ao Mar."

DO LIVRO DAS LAMENTAÇÕES, 6,1-25.
O rio Ribeira de Iguape está gravemente doente.

Durante séculos e milênios, eu era um rio vistoso, orgulhoso, com águas límpidas dentro de meu leito profundo e cercado de matas que me emprestavam a sua cor verde, enquanto o azul do céu como uma grande cúpula dava a idéia de uma basílica que penetrava para dentro da casa de seu Criador. O verde e esse azul me concediam a aparência de muita força e saúde. Quando as chuvas dos rebojos vindos do mar grosso, penetravam até as serras em ambos os meus lados e enchiam os riachos e os rios menores da região, eu, o Ribeira de Iguape e de toda a região, mostrava a minha força, absorvia as águas de todos os meus afluentes e invadia as vargens, as terras baixas além das minhas margens, enquanto no fundo do rio, eu removia as pedras enormes que em outros tempos tinham resistido à pressão das águas, mas nesses dias rolavam e se batiam, recortando as partes pontiagudas até se tornarem redondas e lavradas pelas trombadas que aconteciam no fundo das águas escuras e barrentas. Quando eu invadia as áreas marginais, me sentia forte, quase todo-poderoso, mas ao mesmo tempo eu corria com tanta velocidade para o mar que em poucos dias era obrigado a voltar ao meu leito, mas orgulhoso por causa da fertilidade que eu tinha espalhado nas áreas imensas que pertenciam à minha bacia.
Nos últimos decênios, eu, o rio Ribeira de Iguape que até então era forte e poderoso durante todos esses séculos e milênios, fiquei doente e sofro momentos de uma febre forte e de grande tristeza. Cortaram meus cílios que eram estrondosos como de um gigante, e os cílios de todos os meus afluentes como se quisessem nos castrar. Erosões provocadas por humanos que vivem só uns escassos anos, assorearam o meu leito, e para estragar mais ainda o fluxo vital que era o caminho para os humanos, eles começaram a despejar os desaterros das estradas que construíam nas minhas margens para dentro de meu leito e cometiam estes mesmos crimes contra todos os meus filhos, os riachos e afluentes. Ainda consegui resistir por muito tempo e carregava nas minhas águas o barro e as pedras para perto do mar grosso, mas naquelas baixadas as marés me impediam de manter a velocidade e a forte correnteza que se faziam necessárias para carregar comigo essas milhares de toneladas de terras. Eu era obrigado de largar todo esse entulho dos humanos e de abandoná-lo antes da minha lenta penetração o mar grosso adentro. Sendo um rio com valentia e história, eu chorava, tremia porque sentia que estavam me destruindo. Uns anos atrás fiz diversos ataques, até no inverno, de uma maneira como eu nunca fizera antes tentando assim acordar aqueles seres dotados com inteligência, mas eles se tornaram orgulhosos e insensíveis depois que tinham apreendido como juntar riquezas, ao invés de deixá-las onde estavam durante todos esses milênios.
Agora, para acabar de me matar de vez, dragas com grandes cabeças dentudas comem as minhas margens com o intuito de explorar os saibros que eu trouxe, durante milênios de anos das regiões mais elevadas. Que, pelo menos, buscassem retirar esse material dos baixios que se formaram no meio de meu leito. Não, para acumular riquezas com maior rapidez, alargam o meu leito de tal maneira que, a cada dia mais, perco um pouco do que ainda restava da minha profundidade e das minhas forças de outrora.
Esses humanos não têm mais o coração herdado do Criador, ficaram ridículos e sádicos. Chegaram a fazer leis para me proteger, para dar a impressão que tinha aprendido alguma lição, mas até essas leis estão sendo usadas para acumular riquezas. Onde já se viu! Essa sede de riquezas, ao invés de deixá-las onde estão ou espalhá-las em prol de todos, ainda vai fazer esses ignorantes se acabarem a si mesmos. Se eles desaparecerem, poderei reconstruir o meu leito, minhas margens, acolher com alegria as águas dos meus afluentes e voltar a ser uma bacia bela e vistosa, mas... tenho saudades dos que em outros tempos aproveitavam da minha grandeza e navegavam nas minhas águas, aqueles que ainda não tinham se intoxicado dessa sede do acúmulo de riquezas e ignorâncias. Estou doente, com febre alta, mas ainda não perco a esperança enquanto existe fé sobre a terra. [1] Ass: O Rio Ribeira de Iguape. [18-02-2004]

[1] O autor deixa de mencionar as ameaças da construção de barragens de usinas hidroelétricas, porque não chegaram a ser construídas. Elas são corpos estranhos tanto como o camarão “Vanamei” nos manguezais do Brasil. Nos últimos versos, de outro lado, o rio reconhece o amor que recebeu da parte dos moradores de tempos longínquos. Também deixa de falar do Valo Grande de Iguape. Neste silenciar de assunto tão decisivo transparece um humilde ‘minha culpa’ por ter cometido um grande erro. Quando “surgiu” um dreno na sua margem direita, o rio entrou nesta primeira armadilha que os humanos fizeram, buscando desse modo largar-se em direção do mar com maior facilidade. Neste instante começou o processo de assoreamento que não iria parar nunca mais, desde aquele momento infeliz, há quase 200 anos atrás.
Pe. João 30 – Cananéia/Sp- 18.02.2004

terça-feira, 7 de junho de 2011

A OBRA TEOLÓGICA

Muitas vezes ouvimos dizer que Padre João era Anticlerical; na verdade, Ele sempre defendeu a justiça no seu sentido mais amplo, graças a seu amor ao Evangelho de Jesus Cristo!

Este Amor estava acima de qualquer força de poder, inclusive, do Poder da Igreja que Roma exerce sobre seu povo taxado de “LEIGOS”.

Nós temos a humildade de dizer que pouco sabemos, porém, da mesma forma, Somos raça eleita, sacerdócio régio, nação santa, povo adquirido por Deus...,DESTA IGREJA, conforme diz a Carta de I PEDRO(capítulo 2, 4-9).

Leiam com atenção este texto que foi escrito há muitos anos atrás, mas, que a cada dia fica mais oportuno e atual.

Leiam hoje e daqui a alguns dias, meses e anos, e vejam como a História acontece em cada entrelinha...

Ressaltamos a última frase de Pe. JOÃO 30: “Estamos indo devagar, mas vamos que vamos!!!!!!”.

A OBRA TEOLÓGICA


      




A Arte arquitetônica, há séculos deixou de concentrar as suas melhores forças na construção de templos e santuários. Palácios e casarões foram campo de incrível criatividade. O momento atual provoca os mestres desta arte a uma interessante aliança com os ambientalistas e quando chegam os estudantes de Artes e de Arquitetura da USP ou da INICAMP em Cananéia, estão interessados em pesquisar como se compuseram os bairros da recente periferia desta antiguíssima vila, quais foram as forças da história, da cultura, das tradições do povo e da conjuntura política local, ou a ausência dessas, que levaram ao surgimento destes bairros tão pobres, sem recursos e quase sem infra-estrutura. Surgiram estes bairros com muito menos recursos humanos e financeiros do que as favelas das periferias de São Paulo. Os Mestres da Arte de construir conforme o “senso” e as exigências da era atual estão buscando inspiração e embasamento nas periferias, onde vive a maioria do povo e a força maior da atual humanidade.
Quando, no ano passado, o ITESP foi atingido pela mão da Burocracia romana, a primeira reação dos Curadores deste Instituto era de susto e de separar o Teológicum dos estudantes para o sacerdócio, dos demais estudantes de Teologia e de formar uma Escola de Teologia para Leigos e Agentes de Pastoral, adaptada a esta clientela. Não seria preciso ser tão exigente como na Escola de Teologia para os futuros padres.


Isto é que me fez pensar muito e conversar com umas pessoas sobre o que aqui segue, (Percebi depois que “conversar” não adianta, precisa ser escrito ou desaparece como mais uma bisonharia. Não estou, porém querendo fazer chover no molhado!)
A Arte Teológica é uma atividade humana certamente permanente. Já superou todos os modernismos. Sofre, porém, no meu entender, de um reformismo, apesar de que a Teologia da Libertação a secularizou consideravelmente. Minha colocação é que ela deve secularizar-se muito mais.

Existe a teologia sacerdotal, assim como ela forma uma das tradições da escrituração da Bíblia Sagrada e está fortemente presente nas tradições das grandes religiões. A Tradição sacerdotal é sumamente importante, assim como na Bíblia, mas ela é perigosa ao mesmo tempo; ela é exercida pelos profissionais liberados de um sistema religioso e corre, por esta razão, o perigo de querer dominar e de ser a única válida ou suficientemente embasada e completa.
Minha proposta parte de uma grande preocupação diante da dominação da atividade teológica dos profissionais das religiões, em nosso caso de uma Teologia que tem grandes méritos e contém imensas riquezas, mas, que se baseia quase que unicamente numa longa tradição e preocupação de formar bons sacerdotes e bons teólogos a serviço da Igreja Católica. Esta atividade deve continuar e aperfeiçoar-se sempre.
 


     
A Arte Arquitetônica começou na mesma tradição e preocupação teológica. Ainda constroem belíssimos templos e santuários em Louvor do Senhor da Vida, mas ela seguiu adiante e enriqueceu-se durante e através de todas as torrentes secularizantes e está concentrada em arquitetar a casa do submundo das periferias a quais são a maioria da humanidade e a maior força humana de nosso tempo.
                  

Ouço propor uma Escola de Teologia para começar a pensar a partir da sociedade que aí está, conflitiva, criativa, reformista e em outras épocas revolucionárias, pelo menos em seu discurso. Uma Escola de Teologia para cristãos e para todos os demais que querem estudar e refletir a fundo esta vida, este mundo, este universo, sua história, toda esta conjuntura humana. Não “para” a Igreja Católica, para este ou outro sistema, mas a serviço da vida e da humanização da história.
Será que Pe. João 30 tem raiva da Igreja Católica da qual quase 25 anos é padre e pároco além de tantas outras atividades em que está envolvido? Gosto, amo a Igreja Católica, amo o ser humano como pensante de Deus e da vida, mas receio, desde muito tempo, a supremacia da tradição sacerdotal – em fase de recuo e fechamento – sobre as demais. Na Igreja Católica, na tradição protestante menos, mas também nisso ficaram protestantes e não conseguiram escapar desta linha mestre de sua tradição; na Igreja católica, o sistema clerical impediu direta e mais indiretamente, o surgimento da Arte teológica “láica”, do povo de Deus com um todo, do ser humano cristão pensando todo o seu envolvimento nesta realidade terrestre que busca receber a perspectiva de Deus, mesmo que isso aconteça por caminhos antagônicos ou conflitantes.

                                                            
  











Quando a Igreja fala de leigos, explica o que ele não é e não pode. Isto é tipicamente a dominação da tradição sacerdotal que impediu o crescimento das demais tradições, porque as diversas tradições naturalmente seriam ou serão contrastantes e contestadoras. “Das Wahre ist das Ganze” (Hegel) e nenhuma tradição esgota a totalidade, mas (uma) sobrepondo-se, pode abafar as demais e ai estamos nos afastando da busca da compreensão da totalidade. Reflexões teológicas jamais podem perder de vista ou impedir a busca da compreensão da totalidade. È própria da Arte teológica ser ecumênica e “católica”.


Produção e Economia, Política, Trabalho, Dinheiro, Terra, Ecologia, todos estes assuntos devem ser objetos de profunda e sistemática reflexão teológica, independente de um sistema ou uma associação religiosa. Os processos da humanização da Vida, do Sexo, da preservação das espécies e da Família, da Arte e do Lazer, da Tecnologia e da busca permanente de novas descobertas e novos recursos, o fim da era do trabalho e o começo de um tempo com tempo à disposição para outras atividades, todos estes assuntos devem ser refletidos dentro da ótica teológica. O próprio Deus e a Imagem que a humanidade adquiriu ou destruiu de Deus, as diversas tradições em busca de conhecer a Deus, sem as implicações ou intervenções de um sistema sobre esta atividade teológica.

“São Domingos” podia ter tentado algo nesta direção, mas a tradição sacerdotal de um sistema religioso impediu que tal façanha acontecesse.

O problema então seria a implicação de sistema de controle, por exemplo da Cúria Romana ou de alguma inquisição? Nada disto: minha proposta é uma Escola de Teologia Laica, do povo de Deus, no sentido mais amplo, dos homens e mulheres que querem refletir e estudar a Vida diante de Deus ou com suas dúvidas sobre Deus, uma escola seriamente comprometida com a vida e com a busca da verdade. Aí surgirá uma outra Teologia, a Arte Teológica não sacerdotal. Não terá nenhuma razão para ser anti-sacerdotal ou anticlerical, mas por ser laica, estará crítica e contestadora diante de outras tradições e enfrentará as riquezas da tradição sacerdotal que tem uma longa história.

Estamos entrando na era das grandes atividades ecumênicas, a necessidade de unir todas as forças: a luta pela sobrevivência do Planeta Terra, a questão da miséria e da desigualdade explosivas e insustentáveis num mundo diminuto pela comunicação, as grandes descobertas da Biogenética, a ocupação dos espaços intraplanetária e intra-estrelar e outras a mais devem ser refletidas a fundo.

 
                                                                   









Acredito que pode haver muito interesse, especialmente entre Agentes de pastoral leigos, Lideranças políticas e sociais, e da parte da Classe Média da nossa sociedade, para inscrever-se num currículo teológico desta perspectiva, ou de pessoas que querem seguir algumas matérias relacionadas às suas atividades profissionais.


Penso que esta Escola deve procurar um alto nível de reflexão e de pesquisa, para poder participar, a partir da ótica da abertura para Deus que acreditamos que ao homem é natural, dos grandes debates da humanidade. É por demais claro que, desses debates, a tradição sacerdotal da Igreja católica não soube participar suficientemente. Ela formou os ministros religiosos e deve continuar fazendo isto, mas é importante ter a coragem de perceber que o mundo, a humanidade no momento, está fazendo outras perguntas e buscando outras respostas, pelo menos tão prementes como as da vida intra-eclesial. Esta escola seria uma questão eclesial de serviço a esta humanidade numa fase conflitiva e de muitas perguntas seríssimas.

Esta Escola atingirá outras áreas da atividade humana e suprirá uma grande necessidade. Por isso, ela deve ser, de partida, dialogal com toda a realidade humana, e ecumênica: “católica” ousaria dizer.

E um sonho, São Paulo, Brasil, América Latina poderem oferecer à humanidade, neste estágio de sua caminhada, uma Escola desta envergadura e desta abertura.

Cananéia, 26 de dezembro de 1992  - Pe. João Trinta

                                                              ( Jan van der Heijden svd.)

Obs: post hoc: 1 Seria uma reflexão sobre “a Missão da Igreja Hoje” ?

                          2 Vamos devagar, mas vamos que vamos!

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