quinta-feira, 15 de setembro de 2011

HISTÓRIA DEDICADA AOS "CARIJÓS"- CANANÉIA-SP

Os Senhores do Litoral
Ao Carijós: Seu território ia de Cananéia (SP) até a Lagoa dos Patos (RS). Considerados “o melhor gentio da costa”, foram receptivos à catequese. Isso não impediu sua escravização em massa por parte dos colonos de São Vicente. Em 1564, participaram de um grande ataque a São Paulo. Eram cerco de 100 mil.
[O Bacharel de Cananéia, Mestre Cosmo Fernandes, era o grande intermediário para este bom negócio.]
De: Brasil, uma História. A incrível saga de um país, Cópia da pág. 19,  de Eduardo Bueno, Editora Ática, 2002.
".... tão mansos e pacíficos como os carijó “o melhor gentio da costa”. [pág. 16]

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 UMA FESTA NA FRANÇA.


A surpresa não foi unicamente portuguesa: Já em 1504, o francês Paulmier de Gonneville levou para a França o filho de um líder Carijó, chamado Essomerig. Ele seria apenas o primeiro de uma longa série de nativos conduzidos a Paris, Rouen e Dieppe durante os seis décadas em que os franceses freqüentaram as costas brasileiras, traficando pau-brasil e permanentemente dispostos a estabelecer uma colônia em pleno coração do território português, fosse no Rio, fosse no Maranhão. [pág. 22.]
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Ao partirem de volta para a França, levaram consigo o jovem ‘príncipe’ Essomeriq (talvez Iça Mirim) filho do ‘cacique’ Arosca. Paulmier deveria trazer Essomeriq outra vez para o Brasil, no prazo de ‘vinte luas’ – tão logo o guerreiro tivesse aprendido a ‘fazer canhões’ com os franceses. Como naufragou no litoral de Normandia, Binot Paulmier de Gonneville jamais retornou à América. Essomeriq casou-se com a filha de seu ‘raptor’ e viveu por meio século na França. Morreu sem rever a sua terra natal, em 1583 – alegadamente com 94 anos de idade. [pág. 72]


Obs. 1ª de Pe. João: Se vê a diferença de intenções sobre a viagem do filho do cacique Arosco à França. O cacique queria que – em 20 luas – o filho aprendesse a fazer canhões, enquanto o francês planejava uma façanha exibindo o selvagem aos franceses.
Obs. 2ª de Pe. João: Esta historia – no ano que vem fará 500 anos – ficou guardada nos anais do mosteiro de Lisieux, uma importante paróquia da Normandia [Mais tarde seria o local que daria o nome a Sta. Terezinha de Lisieux]. Ali, no ano 1648, o bisneto Jean Paulmier de Courtonne, após longas pesquisas bem feitas, começou a estudar e escrever a historia de seu bisavó, o carijó Essomericq. Desse modo, a história ficou guardada até hoje.


Os Caçadores de Homens
Embora o auge das bandeiras tenha coincidido com o alvorecer do século XVII e se prolongado por todo esse século, o apresamento de indígenas sempre fez parte da história de São Paulo – na verdade, constituía sua própria essência. Antes de Martim Afonso fundar São Vicente, em 1532, o lugar já era conhecido como “Porto dos Escravos”, graças ao tráfico promovido por João Ramalho e pelo misterioso Bacharel de Cananéia – um degredado que teria sido o primeiro português a viver no Sul do Brasil [pág. 60]

Xerox:
Página 19: Os Senhores do Litoral, os povos indígenas em 1500
Páginas 40-41: O reconhecimento da Nova Terra e Viagem de Martim Afonso de Souza
Páginas 60-61: A Escravatura dos indígenas.

Cananéia -2003 - Pe. Jão Trinta


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O Padre José de Anchieta relata em suas cartas, dados sobre os "Carijós".

O bairro de CARIJO nos acolhe para uma parada no meio de uma caminhada que não pode parar.

“Carijo” vem de Carijós, um povo indígena, guarani que tem qualidades fora do comum mas na história dos povos indígenas, também, sofreu fora do comum.

José de Anchieta menciona os Carijós na sua Carta de quadrimestre de maio a setembro de 1554, dirigida por Anchieta,Santo Ignácio de Loyola, Roma. Dia 1° de setembro de 1554, escrita em São Paulo de Piratininga.

............... Cópia de página 152 de: “Minhas Cartas", por José de Anchieta, por ocasião dos 450 anos da Cidade de São Paulo, no ano de 1554.

Cananéia/Sp, 2003 -Pe. João 30

Carta, à comunidade de Carijo, em Cananéia/SP.

O Livro do Apocalipse, último livro da Bíblia, começa com sete cartas a sete Igrejas que estão na Ásia, a atual Turquia. Tomei a liberdade de escrever a oitava carta, à comunidade de Carijo, em Cananéia/Sp.
Apoc 3,23-391.
Ao anjo da igreja que está em Cananéia, escreve:
Assim fala Aquele que guarda você desde o início da vinda dos invasores que não respeitavam as populações tradicionais, que comprovam a sua presença regular nessa terra abençoada por Deus e bonita por natureza, através das centenas de sambaquis de há mais de seis mil anos atrás.
Estou guardando você como o meu servo, para lançá-lo em missão, cada vez que você, meu povo querido, está sendo ameaçado até a morte. Você sempre foi um povo zeloso e pobre. A sua pobreza, porém, não pesava demais, pois ela era a razão de partilha e de solidariedade.
Conheço a sua fé no Deus da Vida que você encontra – que se revela à sua grã-família – através da exuberante natureza que coloquei em sua volta como um palácio onde você mora junto comigo.
Os que buscavam ouro e riquezas desprezavam você na medida de sua precisão; a sua ganância tornou-se um imenso vendaval que destruiu os seus povos sobrinhos. A sua força carijó foi destroçada na mais cruel escravização.
Conduzi você pela mão, assim que você não chegou a desesperar; eu lhe dei astúcia e você se misturou – antes que seu povo fosse destruído de vez – com portugueses que vieram nas caravelas fazendo os serviços mais penosos e que depois ficaram largados sem previsão de futuro. Fiz vocês se entenderem e você se misturou com eles e com os negros que conseguiram escapar da segunda onda de escravidão, depois que você não prestava mais nem para ser escravo.
Você foi humilhado. Nem para escravo não servia mais, mas Eu, Javé, Tupã, fiz de você uma flecha afiada e vou lançar o seu amor à vida para acolher quem é jogado fora. Você foi tão humilhado que ninguém merece uma humilhação como a sua; pelo contrário, você o amparou e repartiu com ele a farinha de mandioca, o peixe e um pedaço de barraco que ele deve terminar. Você é meu servo, eu o amo demais, mas ...
Agora você corre perigo. A sua pobreza é grande e os MCS ensinam você que ser esperto e astuto agora é virar-se sozinho. Você é seduzido a querer bens em vista de uma riqueza só para você ...
Suas matas correm perigo, suas filhas deitam-se com turistas casados, seus filhos – humilhados pelo desemprego – sonham colorido atraídos como são para os vícios e as drogas. Eles correm perigo de se tornar violentos enquanto o HIV se espalha durante noitadas que não honram ninguém mas entregam você a uma pobreza que lhe é pesada demais. O abuso que lhe foi imposto fez de você um medroso; algo que você pensa que tem de carregar sozinho.

Volte logo, volte logo às suas raízes, às culturas indígena, portuguesa e afro que compuseram o povo caiçara, astuto e esperto, carinhoso e desconfiado; volte às suas origens quando a pobreza era suportável e não humilhava.
Volte à sua origem, saia do centro e fique de lado, não se deixando rebaixar pelo medo que os que roubaram tudo agora lhe querem impor.
Volte à sua origem e lembra que você é como uma flecha afiada a ser lançada no tempo oportuno que marcaremos juntos, eu Tupã e você, meu povo querido. No tempo oportuno lançarei você para libertar meu povo de tantas humilhações. Volte logo, volte logo às suas raízes, às culturas indígena, portuguesa e afro que compuseram o povo caiçara, astuto e esperto, carinhoso e desconfiado; volte às suas origens quando a pobreza era suportável e não humilhava.
Você foi capaz durante todos estes séculos e vai ser capaz de novo. Confie, porque eu cerco você assim como lhe cerca a natureza com que vesti você. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. 25/ 09/ 2003 – Padre João 30




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[1] O Livro do Apocalipse, último livro da Bíblia, começa com sete cartas a sete Igrejas que estão na Ásia, a atual Turquia. Tomei a liberdade de escrever a oitava carta, à comunidade de Carijo, em Cananéia/SP.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

IGREJA MINISTERIAL


Por uma Igreja Ministerial...


A maneira da Igreja estar presente no mundo, corresponde a um processo histórico, profundamente ligado à sociedade de cada época.
(Existe uma tendência eclesiástica que quer divulgar a igreja hierárquica como maneira tradicional, desde vinte séculos e por isso destinada a ficar assim por razões teológicas. Cada agrupamento social estruturado defende sua instituição, por ser a forma conhecida e organizada, a que as pessoas que manipulam esta estrutura, estão acostumadas. Eles se dispõem aos acertos necessários para seu funcionamento e manutenção).


A Igreja do tempo de Jesus era uma comunidade de seguidores do Mestre Galileu. Claro que tinha uma estrutura interna e externa: Pedro exercia forte liderança e funcionava como porta-voz dos discípulos, Judas era o tesoureiro. Esta comunidade tornou-se missionária e espalhou-se pelo Oriente Médio, formando numerosas pequenas comunidades, conforme o modelo de comunidade de Jerusalém que logo foi idealizada( de Atos 2, 42 em diante).
Formou-se uma organização a partir da necessidade natural assim como qualquer grupo social se organiza (cf. Concílio de Jerusalém).
No início é difícil distinguir entre presbíteros e epíscopos. Mais tarde se define uma hierarquia. O Papado é símbolo da unidade, mas os “Concílios” são realizados nas áreas onde as discussões estão ocorrendo, e o papel do Papa é relativo.
Quando na Europa os impérios se organizam, o papado também adquire postura e poder. Na Idade Média, o Imperador e o Papa se combatem duramente competindo pelo poder maior. Os bispos adquirem status assim como os nobres e o Papa torna-se um dos maiores poderes da época, assim que em 1494, o Papa Alexandre VI, de estirpe espanhol, divide as terras recém descobertas e a serem descobertas, entre espanhóis e portugueses. A partir do Concílio de Trento, como Contra-reforma frente aos Protestantes que souberam captar os novos tempos da modernidade e da individualidade, a Igreja Católica agrupo-se em torno do papado e da hierarquia fortes e bem estruturados, para assim poder combater os hereges, tomando como modelo as estruturas dos impérios da época. Agora, depois de quatro séculos, podemos dizer que a questão do poder do papado impediu à Igreja Católica perceber as grandes mudanças em andamento.
Os grandes conflitos na Europa, na segunda parte do século dezenove, obrigaram os bispos participantes do Concílio Vaticano I, a formular um poder extraordinário para o Papa quando em união com os bispos, a  infalibilidade.

Enquanto a modernidade estruturava a economia, os reinos e a sociedade, os papas tornaram-se personagens fortes, venerados ou combatidos conforme as adesões ou interesses, mas, achava-se normal a existência desta estrutura hierárquica. Os impérios, porém desmoronaram ou perderam crédito diante da penetração cada vez mais forte de valores novos como a liberdade, igualdade, fraternidade e mais tarde a democracia, o voto, a individualidade e a personalidade. Especialmente a urbanização como tendência oriunda da industrialização, modificou por demais os conceitos das estruturas e do exercício do poder.
A religiosidade, na cidade, torna-se uma opção individual e ela vai perdendo o ser poder sobre a consciência e o comportamento das pessoas. O ateísmo torna-se uma possibilidade normal.
A Igreja Católica firmou pé no seu poder centralizado e mantém sua estrutura monárquica, como se essa originasse de Jesus Cristo e da Bíblia.

Ser Cristão-católico tornou-se uma opção individual; viver em comunidade já não é mais uma realidade rural, sócio-territorial, mas uma decisão de indivíduos que juntos buscam encontrar-se diante de Deus e vivenciar sua fé e sua religiosidade. A Igreja, povo de Deus, passa por uma rapidíssima transformação, impulsionada pelos valores da modernidade e pela necessidade do ser humano de re-encontrar-se na pós-modernidade, onde tudo fica fragmentado e inseguro. É grande o número de católicos que vivem uma clara consciência que sem mudanças radicais, a Igreja vai perder, e já está perdendo muito adeptos e que isto deve ser evitado, porque, apesar das muitas críticas justas contra as estruturas d Igreja, ela preserva valores incontestáveis e fundamentais para a vivência da Fé e do Evangelho. Um grande valor ‘e o próprio papado que representa o símbolo da unidade, mas os homens modernos e pós-moderno não estão querendo ser considerados como católicos de séculos atrás, quando eram tratados como “almas sob tutela do cura da paróquia rural”.
O mundo urbanizou-se e o homem tomou consciência desse processo, a cultura é urbana, pós-moderna, marcada pelos diversos processos de comunicação. O ser humano vive entre o mundo moderno que ainda existe e que sugere segurança e o mundo pós-moderno que o assusta, mas se impõe, especialmente pela dominação da economia neoliberal. O ser humano busca o religioso como abrigo, de todas as maneiras imagináveis. O individualismo e o medo predominam nesta busca e o resultado se vê nas mais diversas formas de aglomerar grupos e/ou multidões em torno de comunicadores de religiosidade.
 

A Igreja Católica, através de inúmeros seguidores comprometidos com o Evangelho, já avançou muito e se realiza nas milhares de comunidades e nos muitos grupos de reflexão, de atividades religiosas, sociais, ecológicas, de cidadania ou de protesto. Ela se reconstrói novamente a partir de suas bases, dos grupos que seguem o Mestre. Nunca se leu e meditou tanto o Evangelho como agora. Os estudiosos da Bíblia buscam saber de Jesus, de sua pessoa, de seu projeto, seu ambiente de vida e de seus seguidores. A universidade do Reino supera o individualismo e o subjetivismo e faz com que as comunidades e grupos organizem encontros em todos os níveis possíveis. Os membros das comunidades e dos grupos de reflexão se libertam de uma vida de sujeição à sociedade de consumo. Eles realizam uma grande variedade de atividades a partir da reflexão da Palavra de Deus e também dentro da sociedade sabem vivenciar os valores de sua fé.
Um símbolo de unidade e de união na diversidade é que falta a todos os demais grupos religiosos. O Papa continua querido e é recebido por multidões porque essas pessoas não querem ser como areia na praia, levadas pelos ventos dos tempos; almejam alguém que as une e inspira.
A resistência contra o atual papado não se opõe a esses valores, mas aos vícios do poder sobre as pessoas e sobre as suas consciências. Essa estrutura monárquica e de origem rural, para os tempos modernos, obstrui e obscurece a função espiritual da Igreja e de sua missão evangélica. Os tempos atuais aspiram diálogo, participação, individualidade e respeito pela personalidade. 
 


Os tempos são bonitos para os cristãos que conseguem acompanhar as rápidas mudanças da sociedade. Devemos apostar na direção em que o Povo de Deus busca se desenvolver. As estruturas menos evangélicas dentro da Igreja vão durar muito tempo ainda, porque atrás delas está uma longa tradição com muito poder e aglomera-se um número imenso de pessoas crentes que assim procuram escapar da fragmentação desta sociedade em que tem de viver diariamente.

Cananéia, 2 de Fevereiro de 1995                                              Pe. João Trinta


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