A ESCATOLOGIA: As últimas coisas, uma Reflexão sobre o Fim vista pela fé e a pós-modernidade.
Por onde começar? Com o ‘catecismo’ que a todo mais se torna a bíblia da humanidade, o Jornal eletrônico, a Internet:
Para iniciar este estudo escolhi antes de tudo Palavras referentes ao nosso assunto e de outro lado Palavras de atualidades marcantes de hoje. Será que este nosso assunto tem muito procura?
Procurei de cada item, o total da paginas presentes, achando que ninguém põe no Internet o que não tem o interesse do público. Pesquisando de cada conceito o número de páginas presentes através do Programa GOOGLE: Microsoft Internet Explorer. Neste mundo perturbado de 2004 e por meio deste instrumento pós-moderno, fiquei muito surpreso.
O Tema: Palavras em torno da Escatologia: | | Assuntos “quentes “ da atualidade: |
Escatologia | 7.400 | Novelas | 120.000 |
Ressurreição | 54.200 | Iraque | 275.000 |
Fim do mundo | 601.000 | Afeganistão | 83.600 |
Vida eterna | 89.500 | Bush | 499.000 |
Reencarnação | 28.200 | ONU | 202.000 |
Fé | 786.000 | Dólar | 174.000 |
| Totais: 1.566.300 | : | Totais 1.353.600 |
Média: 261.050 | Média 225.600 |
Esta pesquisa nos proporciona um simples olhar sobre os números de páginas para cada item. Logo percebe-se que a “proximidade” corresponde à quantidade de páginas referentes a cada conceito.
O que me chamou a atenção foi que as palavras da primeira coluna, que escolhi para indicar o Tema deste trabalho, são tão altos, muito mais do que esperava. Outra: surpresa foi que a Palavra “ressurreição” tem um número de páginas muito mais elevado do que a “reencarnação”.
Escatologia é um conceito teórico e difícil, mas assim mesmo ocupa 7.400 páginas.
Fé e Fim do Mundo sobressaem, mas isso era de esperar.
Vale a pena olhar e comentar estes números, tiradas do “catecismo da atualidade”, com pessoas, em número cada vez maior, que navegam nestas páginas.
Uma observação critica para o nosso lado: novamente, os evangélicos não católicos (protestantes) aproveitam muito melhor este jornal eletrônico do que os católicos. Como missionários, continuamos fracos enquanto eles usam os meios mais modernos, desde Lutéro depois de 1517.
VER: Este levantamento pode ser feito a partir dos símbolos presentes no dia a dia de nosso povo:
1. O que está sendo falado sobre o mistério da morte, assunto muito comentado mas tâo pouco aprofundado?
2. Quais são os dias que mais ‘mobilizam’ o nosso povo? ( Cat.: Dia das Mães e dos Finados.)
3. Quais são os símbolos mais marcantes no Dia das Mães e no Dia dos Finados? Qual é o significado de cada um deles? (Cat.: Velas: como luz, e Flores expressão de carinho e saudade.)
4. O que o grupo pensa sobre a morte e sobre a vida depois da morte?
5. Onde estão os nossos mortos, aqueles que viverem a sua fé? (Cat.: Anotar, com exatidão as respostas para poder voltar a elas mais tarde, após o estudo que estamos iniciando.)
6. A ressurreição de Jesus o trouxe de volta ao nosso mundo, à Galiléia ou à Palestina?
Cada um formou a sua idéia sobre a morte, mas nunca se ouve que é realizado um congresso ou dia de estudo sobre o tema da nossa morte (com exceção do mundo clínico e de umas casas que oferecem pensão a pessoas idosas mais abastadas).
Percebemos que o assunto nos interessa e ‘mexe’ profundamente com o nosso íntimo.
JULGAR:
A Morte sempre intrigou a humanidade. São encontrados túmulos e restos de funerais em praticamente todos os sítios arqueológicos do mundo indicando um profundo respeito pelas pessoas mortas e, quase sempre, a crença de uma viagem que deve ser feita, uma longa viagem; junto ao defunto se encontram potes de comida e armas. Nos sambaquis na proximidade da costa do sul do Brasil, naqueles em que foram encontrados túmulos, os corpos são postos sentados e o resto do buraco do túmulo foi preenchido com berbigão vivo. Isso se pode constatar pelo fato que essas conchas estão fechadas, não foram abertas, enquanto os sambaquis surgiram amontoando conchas já abertos, consumidas na hora e deixadas lá.
Há pouco tempo ( abril 2004) foi encontrado, perto de Cairo, um corredor subterrâneo, de 1000 anos antes de Cristo, com mais de 60 esquifes com múmias, a maioria hermeticamente fechados e muito bem conservados.
As pirâmides do Egito e dos povos dos Andes datam da mesma era e guardam, - Hoornaert - tanto aqui na América como lá na África os corpos dos ‘senhores’ daqueles tempos.
De Moisés está escrito que nunca mais encontraram o seu túmulo. (Dt 34,5-6);
De Elias que foi arrebatado para o céu num carro de fogo de cavalos de fogo (2 Reis,2, 11-12);
O Xeol, lugar triste dos mortos na religiosidade dos judeus durante quase todo o tempo do Antigo Testamento: Leiam: Nm 16,33 (veja rodapé Bíblia de Jerusalém 2002) Sl 6,6; Jó 7,9
Veja a nova perspectiva que começa a aparecer nalguns salmos (S16,10-11; 49,16; compare os versos. 15 e 16). Esta tendência surge nos últimos escritos do Antigo Testamento. (2 Mac. 7.):
1 Quando o mundo todo era visto como sagrado e tudo acontecia conforme o plano e o poder de Deus, quando tudo era explicado em linguagem de dependência direta de Deus, ou contra Deus, o que sempre levava aos castigos de Deus, naquele crer era diferente, era constatar o poder de Deus e a sua onipresença. [Essa diferente modo de interpretar e conhecer depende do(s) paradigma(s) da cultura daquele tempo e local.]
Crer na ressurreição dos mortos e no céu lá nas alturas era fácil, facilitado por essa cosmovisão colorido pela fé num universo, um mundo e o ser humano absolutamente sagrados. Hoje percebemos que “o mundo é dos espertos” e está em grande parte nas mãos de bandidos e descrentes que se tornam mais ricos e mais poderosos a cada dia que passa. E parece que Deus não está nem aí, ou largou o problema em nossas mãos: “Lhes dei inteligência e forças para vocês resolver esses problemas. É só ter uma fé suficientemente forte”.
2 Para muita gente, nesta época da história, está ficando muito difícil dizer onde Deus está. Não é por nada que muitos, diante deste mundo pós-moderno, buscam seu refúgio num fundamentalismo onde já não preciso pensar é só crer o que está escrito e os problemas parecem estar resolvidos.
3 De outro lado, para resolver as questões, há pessoas que querem ser modernas e de boca pra fora se igualam aos animais: “vou morrer, aí acaba tudo e ponto final, do mesmo jeito com a vida e morte de meu cachorro de estimação. Faz um enterro solene para o meu cão e espera que que nós façamos isto para ele, depois da sua morte.
Outras pessoas dizem que pode ser que exista alguma forma de vida depois da morte. É muito difícil acreditar, mas se houver Vida quando morrerem, será lucro. Querem assim expressar que não acreditam:
1. Por quê crer na ressurreição e na vida eterna tornou-se tão difícil para a humanidade de hoje? O mundo, a sociedade e a cultura deixarem de ser sagrados. O mundo hoje é todo calculável. O homem moderno, e mais ainda o pós-moderno, querem mostrar como surgiu a vida na terra, querem mostrar que provavelmente veio de marte, etc. Querem comer das árvore da meio do Jardim de Éden (Gên. 2,9 e 17 e 3,22) O impulso das pesquisas caríssimas das ciências de hoje, provém da busca de compreender a realidade do universo e da existência, ou é equivalente aos pecados dos primeiros capítulos do Gênesis (Torre de Babel, e outros.)? Naquele tempo, era considerado soberbo e vontade de ser igual a Deus, hoje é espírito de pesquisador.
2. Este contexto ‘moderno’ do homem ‘adolescente’ em suas descobertas ou revoltado reagindo contra uma religião que lhe era imposta e o oprimia, não ajuda a crer ou a compreender a presença de Deus em nossa vida. A humanidade ainda não absorveu as suas descobertas científicas; gaba-se de estar perscrutando os mistérios mais profundos da Vida e da origem do Universo, mas ainda não conhece o seu lugar neste mundo ‘secular’.
3. Este mundo ‘secular’ existe na ciência, nas pesquisas da física, da biologia, na tecnologia e nas grandes descobertas da matemática. Neste ambiente, Deus jamais é um ‘deus ex maquina’, uma parte da tese ou uma causalidade dentro do assunto em pauta. É muito importante saber distinguir entre a minha ação de pesquisador e a minha fé-consciência de que tudo isto é obra de Deus, Criador de todas as coisas. O homem moderno tem muita dificuldade de entender o ‘lugar’ de Deus neste mundo secularizado pela prática da ciência que enquanto ciência está certa; freqüentemente, porém, o pesquisador cientifico chega a tirar conclusões que não tem nada a ver com as suas pesquisas. Ficou famosa a frase de Gagarin, durante as primeiras voltas do homem em torno do planeta Terra, quando disse que estava voando pelo céu, mas que não encontrava a Deus em nenhuma parte.
4. [Penso que estamos ainda hoje por demais presos ao texto verbal do Gênesis. Já aprendemos a distinguir entre a linguagem da ciência e a Teoria da Evolução e de outro lado a bela crônica religiosa da Criação, da Bíblia. A mensagem é que Deus é o Criador de tudo isso, que o universo ..., as plantas e os animais ...., que o ser humano é criado á imagem e semelhança do próprio Deus, que Deus depois descansou, para justificar a observância do Sábado dos judeus ....! Eu, porém, tendo a pensar que Deus é o Criador permanente, não só no começo, mas que tudo existe porque está na mão de Deus Criador que a mantém, ‘ontem, hoje e sempre’, na sua eternidade a-temporal.].
5. Para iluminar a nossa busca da mais profunda realidade de nossa Vida, quero usar os escritos do João: Evangelho, Cartas e Apocalipse. É uma opção, mas é conhecido que João trata a Vida dos que crêem como participação, desde já, da Glória.
Além disso, é importante que João faz questão de iniciar o seu Evangelho retomando o Início da Bíblia Sagrada e a Criação. Jesus retoma a obra de seu Pai e a resgata em sua Vida, tirando assim os pecados do mundo. O cordeiro pascal dos judeus os fez comemorara a libertação da escravidão do Egito e a presença de Javé na medida de sua obediência às Leis de Moisés.
O Cordeiro de Deus, da Nova Aliança, pela sua obediência á vontade de seu Pai, liberta a humanidade do pecado e lhe abre o Caminho da Verdade e da Vida..
Eis o Cordeiro de Deus que tiro o pecado do mundo Jo 1,29
Com Nicodemos Jo 3,14-17
Com a Samaritana Jo 4,13-14 e os 5 homens mais um não-marido: Jesus é o sétimo homem, aquele que traz e dá a água da fonte, a vida que jorra para a vida eterna.
Jo 5,24-29: Quem ouve a Palavra e crê naquele que me enviou ...
Jo 6,46-58 O Pão vivo descido do céu
Lázaro: Jo 11,25-26; 40: CRERAM NELE. A palavra chave do Evangelho de João;
Jo 11,6: permaneceu ainda dois dias no lugar em que se encontrava;
Jo 11,17 e 39: era “o quarto dia”
Duas “leituras” eu analiso a partir dos números.
Este estilo literário pertence ao Evangelho de São João.
O Evangelho de São João traz o “jogo dos números” e há poucos exegetas que se atrevem mexer com esses dados.
Primeiramente, o chamo um “jogo” mas um jogo muito inteligente; não acrescenta novas coisas mas ao mesmo tempo aprofunda ou direciona. Vamos lá:
João 4. A Samaritana, mulher de 5 homens, o homem que está com ela agora não é o seu marido, mas para os entendidos desta linguagem é o seu sexto homem.
Jesus, então, será o sétimo homem em sua vida e Ele lhe dará água que jorra para a vida eterna.
Mais uma vez, Jesus é a porta ( João10). É por Ele que temos acesso à plenitude da vida.
A história de Lázaro: João 11.
Jesus espera mais dois dias onde ele está; só no terceiro dia via a Betânia.
Por duas vezes, fala-se que “já é o quarto dia que ele morreu” “ [Sei que isso significa que ele pode ser considerado como morto, com certeza, o que é importante para os que querem desconversar do assunto porque ‘ele ainda não estava morto, dormia.]”
O túmulo é semelhante ao de Jesus: será preciso retirar a pedra. Jesus manda retirá-la. Na ressurreição de Jesus, o Pai já tinha cuidado disso.
Vamos que vamos: os números:
O problema é que muitos não crêem na ressurreição, querem ver para crer. João enfrenta isso pelos anos 95 da era cristã. Na terceira geração após a morte e ressurreição, como a comunidade enfrenta isso? A comunidade mostra que Jesus nos ressuscita pela sua Vida, morte e ressurreição e como o Cordeiro que está ao lado do trono, em outros textos e outras ocasiões.
Jesus fica mais dois dias onde Ele está; só no terceiro dia, Ele vai a Betânia ...
Já é o quarto dia, o dia depois que Jesus ressuscitou ao terceiro dia; ‘the day after!’
Deus ressuscitou a Jesus (cuidou da retirada da pedra do túmulo) ...
Jesus pede que retirem a pedra e chama Lázaro à vida.
Depois do terceiro dia, da ressurreição; a partir do quarto dia, é Jesus, o Filho, que nos ressuscita.
Jesus glorifica o Pai, testemunhando que Deus é Amor, sempre e por toda parte. Viver e morrer por essa causa é a sua glória. Jo 12,20-36,
E: O príncipe deste mundo será lançado abaixo.
Jo 13, Lava-pés6-8
Jo 14,1; 6;
A videira Jo 15,inteiro; 12; 13; 17;
Jo 17, esp 17,24
O processo, 18,36;
Cap 20, inteiro: 22-23; Tomé: crer para ver; 29
Cap 21, inteiro
Voltando agora a Tomé que queria "ver para crer" . É óbvio que muita gente pensava como ele e ainda pensa assim.
Fé é viver de olhos abertos para a vida cotidiana; é perceber que esta Vida vale a pena quando é vivida com Deus presente, Deus no meio de seu povo e orientando a nossa caminhada e a missão de cada um. Quem crê de verdade e vive a sua fé, reza muito, à sós e com a comunidade, para saber o que Deus espera dele e de nós todos. Quem crê e toma tempo para rezar, percebe a destruição que o egoísmo e o orgulho provocam na vida pessoal e na humanidade.
Quem crê, toma tempo para rezar e percebe a destruição provocada pelo pecado, percebe que a vida que Deus nos deu, é diferente daquela que estamos vivendo.
Aí se percebe que a comunidade dos discípulos de Jesus, depois de crer na ressurreição de Jesus, passou por uma grande mudança de vida; o amor, a fraternidade, a comunidade, especialmente os pobres e doentes tinham se tornado importantes, eram os mais queridos de Jesus. Esses discípulos tinham começado a viver a Vida da criação, de acordo com a vontade do Criador.
Aí, começaram a entender o erro de Tomé: a gente deve " crer para ver". A vida deve mudar.... e aí a gente percebe que a vida, que temos aqui e agora, é vida que Deus nos deu para ser vivida junto a Ele, no seu amor, por toda a eternidade.
Crer para ver que não existe uma vida paralela, uma vida de fé ao lado da vida cotidiana. Devemos ser santos, como Jesus era Santo e Filho de Deus, no cotidiano. Isso vai exigir, de fato, uma imensa mudança. Por isso, lhes desejamos uma vida pascal, uma vida toda pascal. Assim seja!
FELIZ PÁSCOA, deseja a todas as comunidades,
Padre João Trinta– Vigário – Abril/2004