quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Carta, à comunidade de Carijo, em Cananéia/SP.

O Livro do Apocalipse, último livro da Bíblia, começa com sete cartas a sete Igrejas que estão na Ásia, a atual Turquia. Tomei a liberdade de escrever a oitava carta, à comunidade de Carijo, em Cananéia/Sp.
Apoc 3,23-391.
Ao anjo da igreja que está em Cananéia, escreve:
Assim fala Aquele que guarda você desde o início da vinda dos invasores que não respeitavam as populações tradicionais, que comprovam a sua presença regular nessa terra abençoada por Deus e bonita por natureza, através das centenas de sambaquis de há mais de seis mil anos atrás.
Estou guardando você como o meu servo, para lançá-lo em missão, cada vez que você, meu povo querido, está sendo ameaçado até a morte. Você sempre foi um povo zeloso e pobre. A sua pobreza, porém, não pesava demais, pois ela era a razão de partilha e de solidariedade.
Conheço a sua fé no Deus da Vida que você encontra – que se revela à sua grã-família – através da exuberante natureza que coloquei em sua volta como um palácio onde você mora junto comigo.
Os que buscavam ouro e riquezas desprezavam você na medida de sua precisão; a sua ganância tornou-se um imenso vendaval que destruiu os seus povos sobrinhos. A sua força carijó foi destroçada na mais cruel escravização.
Conduzi você pela mão, assim que você não chegou a desesperar; eu lhe dei astúcia e você se misturou – antes que seu povo fosse destruído de vez – com portugueses que vieram nas caravelas fazendo os serviços mais penosos e que depois ficaram largados sem previsão de futuro. Fiz vocês se entenderem e você se misturou com eles e com os negros que conseguiram escapar da segunda onda de escravidão, depois que você não prestava mais nem para ser escravo.
Você foi humilhado. Nem para escravo não servia mais, mas Eu, Javé, Tupã, fiz de você uma flecha afiada e vou lançar o seu amor à vida para acolher quem é jogado fora. Você foi tão humilhado que ninguém merece uma humilhação como a sua; pelo contrário, você o amparou e repartiu com ele a farinha de mandioca, o peixe e um pedaço de barraco que ele deve terminar. Você é meu servo, eu o amo demais, mas ...
Agora você corre perigo. A sua pobreza é grande e os MCS ensinam você que ser esperto e astuto agora é virar-se sozinho. Você é seduzido a querer bens em vista de uma riqueza só para você ...
Suas matas correm perigo, suas filhas deitam-se com turistas casados, seus filhos – humilhados pelo desemprego – sonham colorido atraídos como são para os vícios e as drogas. Eles correm perigo de se tornar violentos enquanto o HIV se espalha durante noitadas que não honram ninguém mas entregam você a uma pobreza que lhe é pesada demais. O abuso que lhe foi imposto fez de você um medroso; algo que você pensa que tem de carregar sozinho.

Volte logo, volte logo às suas raízes, às culturas indígena, portuguesa e afro que compuseram o povo caiçara, astuto e esperto, carinhoso e desconfiado; volte às suas origens quando a pobreza era suportável e não humilhava.
Volte à sua origem, saia do centro e fique de lado, não se deixando rebaixar pelo medo que os que roubaram tudo agora lhe querem impor.
Volte à sua origem e lembra que você é como uma flecha afiada a ser lançada no tempo oportuno que marcaremos juntos, eu Tupã e você, meu povo querido. No tempo oportuno lançarei você para libertar meu povo de tantas humilhações. Volte logo, volte logo às suas raízes, às culturas indígena, portuguesa e afro que compuseram o povo caiçara, astuto e esperto, carinhoso e desconfiado; volte às suas origens quando a pobreza era suportável e não humilhava.
Você foi capaz durante todos estes séculos e vai ser capaz de novo. Confie, porque eu cerco você assim como lhe cerca a natureza com que vesti você. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. 25/ 09/ 2003 – Padre João 30




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[1] O Livro do Apocalipse, último livro da Bíblia, começa com sete cartas a sete Igrejas que estão na Ásia, a atual Turquia. Tomei a liberdade de escrever a oitava carta, à comunidade de Carijo, em Cananéia/SP.

Um comentário:

  1. Padre João com este texto profético nos ensina e alerta que enquanto agentes provocados pelo seguimento ao Evangelho de Jesus Cristo somos aqueles que escrevem a Biblia do Povo de Deus hoje, pois a Palavra é sempre VIVA e se renova a cada dia, a cada passo adiante a conquistar o Reino...Palavras provocantes, corajosas..que ouçam os ouvidos de boa vontade!- RITA GUERINO

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