terça-feira, 7 de junho de 2011

A OBRA TEOLÓGICA

Muitas vezes ouvimos dizer que Padre João era Anticlerical; na verdade, Ele sempre defendeu a justiça no seu sentido mais amplo, graças a seu amor ao Evangelho de Jesus Cristo!

Este Amor estava acima de qualquer força de poder, inclusive, do Poder da Igreja que Roma exerce sobre seu povo taxado de “LEIGOS”.

Nós temos a humildade de dizer que pouco sabemos, porém, da mesma forma, Somos raça eleita, sacerdócio régio, nação santa, povo adquirido por Deus...,DESTA IGREJA, conforme diz a Carta de I PEDRO(capítulo 2, 4-9).

Leiam com atenção este texto que foi escrito há muitos anos atrás, mas, que a cada dia fica mais oportuno e atual.

Leiam hoje e daqui a alguns dias, meses e anos, e vejam como a História acontece em cada entrelinha...

Ressaltamos a última frase de Pe. JOÃO 30: “Estamos indo devagar, mas vamos que vamos!!!!!!”.

A OBRA TEOLÓGICA


      




A Arte arquitetônica, há séculos deixou de concentrar as suas melhores forças na construção de templos e santuários. Palácios e casarões foram campo de incrível criatividade. O momento atual provoca os mestres desta arte a uma interessante aliança com os ambientalistas e quando chegam os estudantes de Artes e de Arquitetura da USP ou da INICAMP em Cananéia, estão interessados em pesquisar como se compuseram os bairros da recente periferia desta antiguíssima vila, quais foram as forças da história, da cultura, das tradições do povo e da conjuntura política local, ou a ausência dessas, que levaram ao surgimento destes bairros tão pobres, sem recursos e quase sem infra-estrutura. Surgiram estes bairros com muito menos recursos humanos e financeiros do que as favelas das periferias de São Paulo. Os Mestres da Arte de construir conforme o “senso” e as exigências da era atual estão buscando inspiração e embasamento nas periferias, onde vive a maioria do povo e a força maior da atual humanidade.
Quando, no ano passado, o ITESP foi atingido pela mão da Burocracia romana, a primeira reação dos Curadores deste Instituto era de susto e de separar o Teológicum dos estudantes para o sacerdócio, dos demais estudantes de Teologia e de formar uma Escola de Teologia para Leigos e Agentes de Pastoral, adaptada a esta clientela. Não seria preciso ser tão exigente como na Escola de Teologia para os futuros padres.


Isto é que me fez pensar muito e conversar com umas pessoas sobre o que aqui segue, (Percebi depois que “conversar” não adianta, precisa ser escrito ou desaparece como mais uma bisonharia. Não estou, porém querendo fazer chover no molhado!)
A Arte Teológica é uma atividade humana certamente permanente. Já superou todos os modernismos. Sofre, porém, no meu entender, de um reformismo, apesar de que a Teologia da Libertação a secularizou consideravelmente. Minha colocação é que ela deve secularizar-se muito mais.

Existe a teologia sacerdotal, assim como ela forma uma das tradições da escrituração da Bíblia Sagrada e está fortemente presente nas tradições das grandes religiões. A Tradição sacerdotal é sumamente importante, assim como na Bíblia, mas ela é perigosa ao mesmo tempo; ela é exercida pelos profissionais liberados de um sistema religioso e corre, por esta razão, o perigo de querer dominar e de ser a única válida ou suficientemente embasada e completa.
Minha proposta parte de uma grande preocupação diante da dominação da atividade teológica dos profissionais das religiões, em nosso caso de uma Teologia que tem grandes méritos e contém imensas riquezas, mas, que se baseia quase que unicamente numa longa tradição e preocupação de formar bons sacerdotes e bons teólogos a serviço da Igreja Católica. Esta atividade deve continuar e aperfeiçoar-se sempre.
 


     
A Arte Arquitetônica começou na mesma tradição e preocupação teológica. Ainda constroem belíssimos templos e santuários em Louvor do Senhor da Vida, mas ela seguiu adiante e enriqueceu-se durante e através de todas as torrentes secularizantes e está concentrada em arquitetar a casa do submundo das periferias a quais são a maioria da humanidade e a maior força humana de nosso tempo.
                  

Ouço propor uma Escola de Teologia para começar a pensar a partir da sociedade que aí está, conflitiva, criativa, reformista e em outras épocas revolucionárias, pelo menos em seu discurso. Uma Escola de Teologia para cristãos e para todos os demais que querem estudar e refletir a fundo esta vida, este mundo, este universo, sua história, toda esta conjuntura humana. Não “para” a Igreja Católica, para este ou outro sistema, mas a serviço da vida e da humanização da história.
Será que Pe. João 30 tem raiva da Igreja Católica da qual quase 25 anos é padre e pároco além de tantas outras atividades em que está envolvido? Gosto, amo a Igreja Católica, amo o ser humano como pensante de Deus e da vida, mas receio, desde muito tempo, a supremacia da tradição sacerdotal – em fase de recuo e fechamento – sobre as demais. Na Igreja Católica, na tradição protestante menos, mas também nisso ficaram protestantes e não conseguiram escapar desta linha mestre de sua tradição; na Igreja católica, o sistema clerical impediu direta e mais indiretamente, o surgimento da Arte teológica “láica”, do povo de Deus com um todo, do ser humano cristão pensando todo o seu envolvimento nesta realidade terrestre que busca receber a perspectiva de Deus, mesmo que isso aconteça por caminhos antagônicos ou conflitantes.

                                                            
  











Quando a Igreja fala de leigos, explica o que ele não é e não pode. Isto é tipicamente a dominação da tradição sacerdotal que impediu o crescimento das demais tradições, porque as diversas tradições naturalmente seriam ou serão contrastantes e contestadoras. “Das Wahre ist das Ganze” (Hegel) e nenhuma tradição esgota a totalidade, mas (uma) sobrepondo-se, pode abafar as demais e ai estamos nos afastando da busca da compreensão da totalidade. Reflexões teológicas jamais podem perder de vista ou impedir a busca da compreensão da totalidade. È própria da Arte teológica ser ecumênica e “católica”.


Produção e Economia, Política, Trabalho, Dinheiro, Terra, Ecologia, todos estes assuntos devem ser objetos de profunda e sistemática reflexão teológica, independente de um sistema ou uma associação religiosa. Os processos da humanização da Vida, do Sexo, da preservação das espécies e da Família, da Arte e do Lazer, da Tecnologia e da busca permanente de novas descobertas e novos recursos, o fim da era do trabalho e o começo de um tempo com tempo à disposição para outras atividades, todos estes assuntos devem ser refletidos dentro da ótica teológica. O próprio Deus e a Imagem que a humanidade adquiriu ou destruiu de Deus, as diversas tradições em busca de conhecer a Deus, sem as implicações ou intervenções de um sistema sobre esta atividade teológica.

“São Domingos” podia ter tentado algo nesta direção, mas a tradição sacerdotal de um sistema religioso impediu que tal façanha acontecesse.

O problema então seria a implicação de sistema de controle, por exemplo da Cúria Romana ou de alguma inquisição? Nada disto: minha proposta é uma Escola de Teologia Laica, do povo de Deus, no sentido mais amplo, dos homens e mulheres que querem refletir e estudar a Vida diante de Deus ou com suas dúvidas sobre Deus, uma escola seriamente comprometida com a vida e com a busca da verdade. Aí surgirá uma outra Teologia, a Arte Teológica não sacerdotal. Não terá nenhuma razão para ser anti-sacerdotal ou anticlerical, mas por ser laica, estará crítica e contestadora diante de outras tradições e enfrentará as riquezas da tradição sacerdotal que tem uma longa história.

Estamos entrando na era das grandes atividades ecumênicas, a necessidade de unir todas as forças: a luta pela sobrevivência do Planeta Terra, a questão da miséria e da desigualdade explosivas e insustentáveis num mundo diminuto pela comunicação, as grandes descobertas da Biogenética, a ocupação dos espaços intraplanetária e intra-estrelar e outras a mais devem ser refletidas a fundo.

 
                                                                   









Acredito que pode haver muito interesse, especialmente entre Agentes de pastoral leigos, Lideranças políticas e sociais, e da parte da Classe Média da nossa sociedade, para inscrever-se num currículo teológico desta perspectiva, ou de pessoas que querem seguir algumas matérias relacionadas às suas atividades profissionais.


Penso que esta Escola deve procurar um alto nível de reflexão e de pesquisa, para poder participar, a partir da ótica da abertura para Deus que acreditamos que ao homem é natural, dos grandes debates da humanidade. É por demais claro que, desses debates, a tradição sacerdotal da Igreja católica não soube participar suficientemente. Ela formou os ministros religiosos e deve continuar fazendo isto, mas é importante ter a coragem de perceber que o mundo, a humanidade no momento, está fazendo outras perguntas e buscando outras respostas, pelo menos tão prementes como as da vida intra-eclesial. Esta escola seria uma questão eclesial de serviço a esta humanidade numa fase conflitiva e de muitas perguntas seríssimas.

Esta Escola atingirá outras áreas da atividade humana e suprirá uma grande necessidade. Por isso, ela deve ser, de partida, dialogal com toda a realidade humana, e ecumênica: “católica” ousaria dizer.

E um sonho, São Paulo, Brasil, América Latina poderem oferecer à humanidade, neste estágio de sua caminhada, uma Escola desta envergadura e desta abertura.

Cananéia, 26 de dezembro de 1992  - Pe. João Trinta

                                                              ( Jan van der Heijden svd.)

Obs: post hoc: 1 Seria uma reflexão sobre “a Missão da Igreja Hoje” ?

                          2 Vamos devagar, mas vamos que vamos!

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