quarta-feira, 6 de julho de 2011

CULTURA CAIÇARA - População tradicional de Cananéia

 A nossa cultura caiçara e a maneira de viver da população tradicional de Cananéia estão sendo tratadas muitas vezes como algo que ainda existe graças a política de preservação do Meio ambiente. Os técnicos falam de manejo, de biodiversidade e muitas outras palavras difíceis porque estudaram estes assuntos em faculdades e livros.

Nossa descendência dos povos indígenas, a nossa identidade cultural, uma mistura de três raças pobres que sempre atuaram dentro da natureza formando pequenos sítios, pescando e fazendo roças para viver, nos ensinaram o que outros agora estão aprendendo na escola. Com todo respeito pelos estudos da realidade do meio ambiente e da natureza e pelos muitos bons ambientalistas que nós encontramos aqui em Cananéia e nos lugares onde moramos há séculos,... Fomos nós que preservamos esta natureza como uma mãe que nos protege, nos alimenta e nos dá as condições de construir a nossa vida humilde, mais muito valiosa. Isso deve ser respeitado. Exigimos da política ambiental o mesmo respeito por nós e pela nossa possibilidade de continuar cuidando de nossos lugares que eles têm pela flora e fauna.

Quem nos ajudou muito a compreender melhor a riqueza da nossa cultura e a importância de nossa maneira de conviver com a natureza, foi o Padre João que vê este mundo como Dom de Deus para todos poderem viver com dignidade. Ele nos ensinou que a natureza é forte quando tratada desse modo e fraca e indefesa quando agredida por atitudes que visam exploração e riqueza.

Qual é o problema da política do Meio Ambiente? Porque esses ambientes agora devem ser defendidos para não serem depredados? Não é por causa da nossa presença, mas pelo que vem de fora, não para viver e cuidar para que também seus filhos e netos possam viver como nós esperamos fazer.
Os “urbanos”, especialmente das cidades grandes, vão precisar muito poderem ter contato com a natureza, mas, também com grupos humanos que vivem em harmonia com esses ambientes simples. A natureza é simples, acolhedora, um tanto melancólica, mas essa melancolia desaparece logo que pessoas comecem a conviver com ela. Somos parte da mesma natureza. O urbano não tem consciência disso, mas contatando a natureza com carinho, estamos chegando em casa.

Os de fora, sejam políticos ou comerciantes de lotes, de programas de turismo ou de madeira, todos olham para a nossa região para ganhar dinheiro e ficar ricos. Para eles, existe aqui uma riqueza imensa a ser explorada e comercializada; cada qual vê a partir de seus planos. Não há, no mundo inteiro, uma natureza capaz de gerar esse tipo de riqueza sem que ela mesma seja destruída. A natureza nos é dado por Deus para garantir uma vida digna, mas não para alguns poucos se enriquecerem com ela. A natureza não agüenta isso, adoece e morre. Espero que nós, caiçaras e moradores tradicionais desta terra de Cananéia desde há muitos séculos, possamos cuidar de nosso lugar até contra muitos que se chamam de eco-turistas e de ambientalistas, pois a maioria chega, quase sempre, com certas ganâncias; não vem à toa!

O nosso ambiente é lindo, é rico em vida, em variedade de espécies de plantas e de animais de todo tipo, há muita água limpa e muitos matos e mangues. Mas esse mundo é fraco diante de qualquer tipo de agressão que visa extrair riqueza. O mundo é criado, ele existe para ser berço da vida e nunca para produzir riquezas por qualquer exploração que seja. Não é por acaso que o mundo e o clima de hoje passam mal.
Todo este mundo foi e ainda está sendo abusado de inúmeras maneiras em função do capitalismo e da busca de riquezas. Quando os turistas saem de casa, lá nas suas cidades, levam consigo a mentalidade do capitalismo e da exploração e chegam aqui agredindo a natureza de muitas maneiras, sem que o percebam; eles vivem de acordo com a cultura deles assim como nós vivemos de outra maneira, de acordo com a nossa cultura.

Espero que nós, povo caiçara de Cananéia, possamos garantir uma vida sadia à nossa natureza.

Cananéia, 03 de outubro de 2003. Padre João Trinta

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