sexta-feira, 15 de julho de 2011

DOMINUS _ DOMINAI


Deus os abençoou e lhes disse: ‘Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a: Dominai sobre os peixes das águas, as aves do céu e todos os animais que rastejam sobre a terra’. Deus disse: ‘Eu vos dou...’ [1] 


[1] Gen1, 28-29ª  

       
Na hora de Deus entregar ao Adão, ao humano que acabava de criar à sua imagem e semelhança, a sua única missão, havia duas possibilidades: “ser Senhor” para dominar ou para cuidar bem.
O CONFLITO. Administrar para que? Nessa escolha a humanidade se perdeu... Optou pela riqueza e o poder; para ser dominus e gerar riqueza. A sorte da maioria das criaturas nem foi lembrada. Administrar para ficar rico é uma opção real que dá certo para uns na medida em que outros sejam deixados de lado e os senhores possam apoderar-se das coisas que eles administram, procurando a dominá-las em função do progresso e da riqueza.
Não se importa com o que vai acontecer com todos que foram espoliados porque a missão é “dominar os peixes do mar, as aves do céu...”, mas nada lhes foi dito sobre se eram “guardiões de seus irmãos”.





Foi muito simples, desde o começo da história até hoje a opção é de ser domini e dominae, senhores e senhôras, que criam a riqueza, o poder, o luxo e o conforto no mais alto grau possível.

A AUTODEFESA: Quando vocês nos agridem com suas passeatas e manifestações, nos acusam que nós não temos consciência do que estamos fazendo e das conseqüências. Não digam que não temos consciência! Sabemos muito bem o que estamos fazendo, pois escolhemos o caminho que a humanidade quer: que produzamos a maior quantidade possível de riquezas, luxo, conforto e prazer e outras coisas importantes como saúde e os melhores hospitais, ótimas universidades, arte, lazer, etc.”.

A REPLICA: Esperem aí, a miséria total de um bilhão de pessoas e a extrema pobreza de mais um bilhão e meio de filhos de Adão, essas camadas da população estão todas fora dos projetos atuais da humanidade. Uma população, em número igual às populações de China e Índia juntas, está abandonada e de fato não aparece nos grandes planos dos que dominam, nem chega a interessar aos que querem este mundo crescendo em riqueza e novas possibilidades.

Esta maneira de administrar, esta opção de ser senhores e senhôras de toda a criação é fácil de entender, hoje isso está em acordo com o que a maioria da humanidade almeja. Quem é que não gosta de conforto, luxo e prazer! E não se esqueça da busca de segurança. E o que esse mundo diz do surgimento das doenças modernas que chegam a exterminar multidões, por toda parte?

A guerra de Afeganistão está dentro desse mesmo planejamento? Iraque e tudo o que lá acontece, cada dia de novo? Também o total abandono de continente africano? Será que a prestação de contas oficial está batendo com a verdadeira? E as ameaças deste século em que a flora e a fauna, e não menos a própria humanidade toda, vão sofrer a cada século mais como nunca sofreram nestes muitos milhares de anos. Os recursos inesgotáveis estão se acabando. A água será um produto escasso e caro e se os projetos de vocês se prolongarem como estão sendo conduzidos, aquele que não tem $$, não compra água e não bebe! Nenhuma empresa tem em seu programa o item: “Garantir o acesso a água limpa e sadia para todos os seres vivos numa cota mínima de 8 litros por pessoa por dia”.


SONHAR OUTRO PROJETO PARA A VIDA, um rascunho de como o mundo podia ficar se os senhores tivessem escolhido – com o mesmo afinco – a outra possibilidade: de garantir o respeito radical e vida digna para todos os seres vivos. Assumir a Vida e o bem-estar de cada criatura como a nossa absoluta prioridade e o aproveitamento responsável de todos os recursos disponíveis aplicados para a realização deste ideal.
 
Tudo o que existe, não só as populações humanas, os animais e as plantas, mas tudo, também os minérios e as areias da praia, cada qual terá sua importância e a sua vez para garantir a vida sobre a terra. Tudo o que compõe a biodiversidade pode colaborar de muitas maneiras que nós humanos até hoje nem chegamos a conhecer. De cada planta podemos apreender muito.
Quantos animais, quantas plantas gostariam de nos ter transmitido a sua força e a importância que tinham para a vida, mas nem foi pensado nisso quando eles foram destruídos vitimados em favor daquele progresso. A extinção fez a vida do mundo ficar mais vulnerável para sempre.


OPTAR PELA VALORIZAÇÃO DE TODOS E DE TUDO, num espírito comunitário, planetária e garantir que futuramente haja água limpa e sadia para todos; organizar a agricultura assim que o mundo produza alimentos sadios, sem agrotóxicos e sem venenos químicos. Prever a reciclagem de todas as embalagens, vasilhas e folhetos de propaganda usando o quanto possível materiais fáceis de recolher e de reciclar sem poluir o meio ambiente. Não aceitar o desmatamento de milhares de alqueires de mata ou o sacrifício de nossos rios para garantir as altas quantidades de eletricidade das quais hoje necessitam para produzir os milhões de latinhas de cerveja. Nosso rio Ribeira de Iguape está para ser sacrificado para transformar bauxita em alumínio e alumínio em milhões de latinhas onde até umas dezenas de anos atrás usávamos somente garrafas de vidro. As vasilhas de vidro ainda são oferecidas no comércio, mas já optamos pelo “luxo - lixo” de latinha. Quantas coisas não poderão mudar se domini e dominae, os senhores e senhôras se decidirem de administrar tudo em sua volta como dom de Deus e recurso para planejar a Vida do amor verdadeiro e do bem-querer em toda a humanidade. Não será mais preciso excluir ninguém. O projeto será de que todos tenham o seu espaço e seu valor.
E se as escolas educarem as crianças e aos jovens o valor maior da vida e da comunidade, ao invés de continuar ensinando a opção que a humanidade fez de construir um mundo rico e próspero para uns poucos, um mundo que em momento algum deu certo de verdade e que hoje se confronta com a natureza e o planeta prontos para se vingar dos inúmeros maus tratos sofridos.

A LUTA PARA SALVAR O RIO RIBEIRA DE IGUAPE PODE PROVOCAR UM INÍCIO DE MUDANÇAS. Imagine que as assembléias públicas se expressassem pela segunda opção e que fosse decidido seguir adiante pelo novo caminho, pelo outro modo do homem ser dominus e dela ser domina assumindo total responsabilidade pelas suas irmãs e seus irmãos. Devemos ter a coragem de tirar as conclusões do que estamos vendo e de escolher o outro projeto. Devemos cuidar da água, urgentemente, porque a nossa missão, desde os filhos de Adão, é de cuidar bem da vida e ser guardião de nosso irmão.
A humanidade até hoje enxerga somente o atual projeto do progresso material e da riqueza. Está na hora de começarmos a corrigir esta visão e o rumo. Do jeito como vivemos hoje, avançamos apressadamente para o colapso geral. Já não sofreremos nós, mas os filhos e os netos sofrerão mudanças insuportáveis, sem que nós até hoje não tenhamos nenhuma idéia onde os efeitos de nossa soberba vão parar.

Por que esperar amanhã ou adiar mais uns anos? O tempo urge, devemos optar em favor da vida de todas as criaturas como nosso valor supremo e não mais negociar.
Havíamos duas possibilidades pela frente, mas não há caminho para trás. Se agora agredirem o rio Ribeira de Iguape, ele será lesado para sempre, e nós também. Ambos perderemos mais uma chance de sonhar com o outro projeto para a vida..



(Leia agora novamente o início destes pensamentos).

Com Votos de coragem, de

Padre João Trinta - Cananéia, 4 de maio de 2007





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